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ANO COMEMORATIVO

ANA DAS CARRANCAS NA UERJ

Meu sangue é negro, minha alma é de barro  

Ana das Carrancas

Assim falou Ana das Carrancas, exímia ceramista que fez história nas artes populares brasileiras. Nascida Ana Leopoldina dos Santos, há 100 anos, em Ouricuri, no sertão de Pernambuco, Ana construiu destacada trajetória artística, inspirada nas figuras de proa dos barcos que tanto a impressionaram ao chegar às margens do rio São Francisco, fugindo da seca. A artista transportou para o barro as carrancas, então esculpidas em madeira, dando origem a uma verdadeira escola de ceramistas. Ao instituir 2023 como o Ano Ana das Carrancas, a Uerj definitivamente insere a artista no sistema de arte nacional, dando visibilidade a essa mulher, negra, sertaneja e analfabeta. A obra de Ana reflete a história de resistência de grande parte dos nordestinos que optam por migrações sucessivas, buscando melhores condições de vida. Suas peças são ícones da cultura popular e expressam as artes e os saberes tradicionais da região do médio São Francisco para onde migrou, egressa do sertão pernambucano. Autodidata, Ana das Carrancas possuía técnica própria para moldar o barro que retirava do rio, em Petrolina, a partir do conhecimento de seu grupo social de origem. Criou peças únicas que deixam transparecer as marcas digitais da artista em relevos de curvas, sulcos e saliências. Centrada nos ensinamentos de sua mãe, louceira de tradição, Ana soube ir além da produção de simples potes e panelas, meros utilitários, dando forma a peças de extraordinário vigor imaginativo. A artista faleceu em 2008, deixando importante legado e reconhecimento. Foi contemplada com o Troféu Construtores da Cultura do Recife (1995) e o título de Patrimônio Vivo de Pernambuco (2006). Em 2005, recebeu a Ordem do Mérito Cultural, concedida pelo presidente Lula e o ministro da Cultura Gilberto Gil. Ela também fez escola. As filhas, Maria e Ângela, ambas ceramistas, são responsáveis pelo acervo da mãe reunido no Centro Cultural Ana das Carrancas, na cidade de Petrolina, onde se radicou definitivamente.

O que é o ano comemorativo?

Inaugurado a partir de 2008, no centenário de Machado de Assis, a UERJ escolhe uma data especial e celebra uma personalidade nacional ou internacional, ou fatos importantes para o Brasil e para a humanidade.

Começamos com o grande bruxo da literatura brasileira, celebramos a ciência no bicentenário de Darwin, em 2009 e, em 2014, homenageamos Leon Foucault. Seu famoso pêndulo foi construído bem no centro de nosso prédio do Macaranã.

A literatura também foi contemplada em alguns anos: Nelson Rodrigues foi lembrado em seus 100 anos; nossa uerjiana Dirce Côrtes Riedel encheu nosso 2015 de orgulho de sua trajetória na educação e na formação de professores.

As artes vieram representadas em 2011, com a homenagem ao grande ator Paulo Gracindo, tão reconhecido por suas atuações inesquecíveis na televisão, cinema e teatro. Também em 2015, com Tomie Ohtake, celebrada ainda em vida, como a artista abstrata japonesa mais brasileira de todas.

A música, tão próxima de nossos campi, mas ainda do Maracanã, cercado por Mangueira e Vila Isabel, foi comemorada em grande estilo, com um 2010 dedicado a Noel Rosa e um 2016 todo para o Samba, no centenário do ritmo essência da música brasileira.

2018 e 2019 foram anos marcantes! O primeiro celebrou os 70 anos da Declaração dos Direitos Humanos e um de seus símbolos maiores, Nelson Mandella, que celebrava seus cem anos de nascimento. Com essa data lembramos a importância de a Universidade discutir o tema e se engajar na luta pela igualdade de direitos em todos os níveis da sociedade.

Em 2019, uma uerjiana icônica foi lembrada também em seu centenário: Carmem Portinho.

2020 celebrou o consagrado economista Celso Furtado trazendo a mensagem de que é possível um mundo melhor, apesar de tudo que temos vivido ultimamente. Celso Furtado um intelectual que pensou o Brasil.

2021 lembrou o centenário do mais citado e premiado dos autores brasileiros dedicados à Educação. Paulo Freire segue vivo na esperança da transformação da sociedade pela educação. A celebração contou com Seminários e eventos que lembraram o legado do grande educador.

Chegamos a 2022 e celebraremos o centenário de Darcy Ribeiro, sociólogo, antropólogo, professor, escritor, indigenista, membro imortal da Academia Brasileira de Letras, ex-ministro da educação e da casa civil. Uma inspiração em momentos tão sombrios, na luta pela educação e pela igualdade, pela democracia e pelos direitos de nossos povos originários. Venha celebrar Darcy Ribeiro com a gente!